Seguimento ativo com ctDNA
Reforçando o potencial do ctDNA como ferramenta de vigilância em pacientes assintomáticos após tratamento curativo, uma análise retrospectiva recente com seguimento de 263 pacientes com diversos tumores e acompanhamento mínimo de seis meses mostrou que o ctDNA pós-operatório positivo esteve associado a um risco significativamente maior de recorrência: 71,3 no câncer de pulmão, 44,3 no colorretal, 37,6 no de mama e acima de 100 no gástrico. Além disso, a detecção do ctDNA antecipou a recidiva clínica em até 19,5 meses no colorretal, 14,4 no pulmonar, 11,0 no de mama, e entre 5 e 9 meses nos tumores gástrico, hepático e ovariano2.
Uso do ctDNA na decisão e monitoramento da adjuvância
No câncer de cólon estádio II, a atualização do estudo DYNAMIC confirmou que a estratégia guiada por ctDNA reduziu o uso de quimioterapia adjuvante (15%versus 28%) sem comprometer a sobrevida livre de recorrência em 5 anos (88% versus 87%) ou a sobrevida global (93,8% versus 93,3%).
Na adjuvância do câncer de mama RH positivo/HER-2 negativo, o estudo DARE, prospectivo e randomizado, apresentado na ASCO 2025, avaliou o monitoramento com ctDNA a cada seis meses durante a terapia endócrina adjuvante. Entre as 432 pacientes com resultados persistentemente negativos, a taxa de sobrevida livre de recidiva foi de 99% após mediana de 27,4 meses de seguimento, reforçando o alto valor preditivo negativo da estratégia. As pacientes ctDNA‑positivas foram randomizadas para mudança de tratamento com fulvestranto mais palbociclibe (braço A) ou manutenção da terapia endócrina em curso (braço B). A taxa de depuração do ctDNA foi superior no braço A (63% versus 22%), e a ausência de queda nos níveis do biomarcador esteve associada a maior risco de recidiva (HR=5,3; IC de 95%: 1,1-53; p=0,04)3.
Avaliação durante a neoadjuvância/tratamento perioperatório com ctDNA
Na ASCO 2025, os dados atualizados do estudo CheckMate 816 reforçaram o papel do ctDNA como marcador prognóstico em câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) ressecável. Em análise exploratória de pacientes com ctDNA positivo no baseline, a taxa de depuração pré-operatório foi superior no grupo tratado com nivolumabe e quimioterapia (56%) em comparação à quimioterapia isolada (35%). A queda do ctDNA associou-se a melhora da sobrevida global (SG), com HR=0,38; (IC de 95%: 0,15-1,00) no braço com imunoterapia e HR=0,39 (IC de95%: 0,14-1,11) no braço controle4. No cenário do câncer urotelial, o estudo de fase III NIAGARA avaliou pacientes com câncer de bexiga músculo-invasivo tratados com durvalumabe associado à quimioterapia neoadjuvante em comparação à quimioterapia isolada, seguidos de cistectomia radical. A taxa de queda de ctDNA entre o início do tratamento e o período pré-operatório foi maior no braço com durvalumabe (41% versus 31%). Além disso, a sobrevida livre de doença em 12 meses foi significativamente superior no braço experimental (82,3%) em comparação ao controle (33,2%), reforçando o valor prognóstico da persistência de doença residual5.
Monitoramento de ctDNA no cenário metastático
No estudo de fase III SERENA-6, apresentado na ASCO 2025, foi avaliada uma estratégia de troca precoce de tratamento guiada por ctDNA em pacientes com câncer de mama RH positivo/HER-2 negativo avançado em uso de inibidor de aromatase (IA) associado a inibidor de CDK4/6. A detecção de mutações no gene ESR1 pelo ctDNA, antes da progressão clínica, foi utilizada como critério para randomização de 315 pacientes assintomáticas para troca do IA por camizestranto, mantendo o CDK4/6i. Essa intervenção precoce resultou em melhora significativa na sobrevida livre de progressão (SLP): 16,0 meses versus 9,2 meses, com HR de 0,44 (IC de 95%: 0,31-0,60; p<0,00001). Trata-se da primeira evidência de que o uso seriado de ctDNA pode identificar resistência emergente e permitir uma intervenção terapêutica antes da progressão radiológica6.
Esses estudos reforçam o papel do ctDNA como biomarcador, com aplicações em diferentes fases da jornada oncológica. Embora ainda não incorporado formalmente às diretrizes, o ctDNA surge como ferramenta importante da oncologia de precisão, com potencial para antecipar decisões clínicas, evitar tratamentos ineficazes e guiar condutas.
Por Dr. Caio Leite
Referências
2 de dezembro de 2025
/2 min. de leitura
2 de dezembro de 2025
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